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quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Spray contra os muros brancos


Depois de ser considerado como ato de vandalismo e de revolta, o grafite ganhou status e passou a frequentar galerias e escolas de arte de todo mundo a partir da década de 80. Autêntica expressão da arte espontânea e da criatividade humana, para alguns, essa técnica formou pintores de alto prestígio. No entanto, para os mais tradicionais, o grafite é uma expressão visual ou simbólica, que pode ou não ter uma dimensão estética.
Nas Escolas de Arte e de Comunicação o grafite é tema de grande pertinência para a análise da nossa sociedade e da cultura contemporânea. Influenciou e influencia a cultura pop moderna, atingindo a forma de criação nas artes plásticas, no cinema, na televisão e, hoje, também, na Internet.
A representatividade de artistas vindos da cultura urbana e do grafite mostra a importância dessa expressão para a sociedade moderna. O pintor Basquiat é um exemplo claro. Iniciou nas ruas de Nova York, para depois ganhar fama com suas obras contestadoras, dividindo espaço com o genial Andy Warhol.
Norma Mailer, estudiosa de arte, confrontou, em certa oportunidade, grafites nova-iorquinos com obras do Museu de Arte Moderna de Nova York e chegou a conclusão que "se não existissem os grafitos de metrô, certos artistas teriam tido a necessidade de inventá-los".

A discussão à respeito do caráter artístico das obras não se dá apenas no grafite, em diversas outras atividades a autenticidade das obras é posta em debate. O próprio conceito de arte é bastante complexo, não podendo se definir displicentemente o que é ou não arte.
Apesar das pichações serem letras e palavras cifradas espalhadas por todos os espaços imagináveis das grandes metrópoles há quem os confunda com os grafites, que são considerados como forma alternativa de explorar possíveis veias artísticas. Na cabeça de quem faz ou admira, o grafite é visto como forma de expressar sentimentos e emoções, de botar pra fora o talento. Segundo "Série", pichador e grafiteiro de Salvador, "Pichar é só aventura, adrenalina. Grafitar é prazer, é realizar uma obra de arte".
Alguns consideram o grafite como expressões rebeldes de jovens e adolescentes que buscam nos muros limpos uma forma de contestar as autoridades e o sistema. Roberto Albergaria, antropólogo e professor da UFBA, afirma "muita gente considera o grafite uma arte, tentando legitimar e recuperar um tipo de expressão selvagem, num espaço já definido como artístico". Para ele o grafite é apenas a marca de uma pessoa excluída do mundo sério, um ato adolescente de rebeldia.
O grafite é um tipo de expressão realizada sobretudo pelas camadas médias, vagamente escolarizadas, jovens, na sua maioria rapazes de 1o. e 2o. grau. Porém alguns desenvolvem o traço e passam a criar verdadeiras obras de arte, ultrapassando a fronteira do rabisco estilizado em muro, para alcançar o consagrado mundo das artes.

"Homens da lei"
Bastante discriminados pela sociedade, os grafiteiros vem buscando desassociar sua imagem da dos bandidos e marginais, partindo para autorização de suas pinturas e participando de campanhas sociais. Em São Paulo várias fundações já vêem no grafite, assim como no RAP, uma alternativa para adolescentes largarem as ruas e as drogas, e iniciarem o caminho das artes. Em Salvador há grafiteiros que já ganham dinheiro executando desenhos em paredes e muros de empresas e residências, que desejam algo mais criativo em seus muros do que o branco poluído comum. Porém, o grafite ainda é visto como ato de vandalismo e falta de educação pela maioria da sociedade, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, por exemplo, considera "as mensagens dos grafiteiros tão nojentas quanto a sujeira que produzem", confirmando a ojeriza e a discriminação de grande parte da população.
Vários são os casos em que grafiteiros foram perseguidos e até mortos pela ação dos chamados "homens da lei". Nas ruas de Salvador, um grafiteiro foi morto pela polícia quando pichava seu apelido, "Tito", em um muro da cidade. Fatos como esses só são menos comuns graças a agilidade dos grafiteiros que fogem e se escondem. Quando pegos pela polícia são levados para delegacia, passando algumas noites em má companhia, só os menores de 18 anos escapam.
Funcionando também como contestação, não deixando de representar as sensações e vivências de seus autores, o grafite utiliza a qualidade de seus traços para criticar a política, a economia e a sociedade em geral. É uma autêntica forma de jovens e adolescentes expressarem, visualmente ou simbolicamente, suas opiniões, não deixando de realizar arte na sua mais pura e real visão.

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